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Nasci na cidade de São Paulo com coração nordestino. Sou fruto da união entre dois jovens que migraram para a capital paulista em busca de uma vida melhor, na década de 1950. Francisca e João se conheceram no ambiente de trabalho e eu cresci no caos da metrópole, rodeada de todo afeto, lembranças e ritmos cultivados pelo meu pai sobre o seu saudoso Sertão, em Piritiba, Bahia. Nessa mestiçagem cultural desenvolvi certo fascínio pelas manifestações religiosas em suas pluralidades. Todavia, foi o contato com o invisível – presente nas religiões de matriz africana, durante a adolescência e ainda em São Paulo – que me marcou profundamente, reverberando em meu atual interesse em fotografar as festas religiosas tão intensas em Salvador e no Recôncavo Baiano. Aos oito anos de idade visitei a Bahia com meus pais e, na ocasião, fotografei um bezerro no curral da fazenda de um tio e o resultado contraluz da imagem me tomou de assalto, tanto como espanto quanto interesse profundo. Talvez ali tenha se desenhado a esperança, que em mim cumpre um caminho tripartido: primeiro como uma virtude teologal, depois como sentimento, mas também uma ligação afetuosa com a cidade Esperança, interior da Paraíba, onde minha mãe cresceu. Casei-me por amor e querer, fortalecendo meus laços com a nordestinidade uma vez que meu marido também é baiano. Mudamo-nos para Senhor do Bonfim, no interior da Bahia, em 1986 e, após sete anos, chegamos a Salvador, onde moro e trabalho. Hoje, o interesse pela religiosidade ainda é uma tônica e, além dele, iniciei um processo de escuta e reflexão sobre o tempo que me conduz a pensar visualmente a família e as memórias dela advindas – algo que entendo estar presente desde a contação de histórias por meu pai. Por outro lado, também percebo o avançar da idade como um dos fatores que me desperta para a necessidade de reter momentos, impedir seus apagamentos e/ou esvanecimentos: a coleta, análise e manipulação das imagens mantém viva a minha esperança.

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